Lançada originalmente em 2014, a Alexa foi desenvolvida com o foco voltado para o consumidor, não necessariamente um usuário de smartphone de ponta, como a Siri presente nos iPhones, e na época, o então Google Now (hoje Google Assistente) e a Cortana, da Microsoft, em dispositivos Windows.
O alvo sempre foi o consumidor médio, que diferente dos tech savvy, não era tão íntimo de novidades, mas saberia muito bem operar um dispositivo por voz, fazendo requisições simples, como pedir informações do clima, da Bolsa de Valores, como está o trânsito no trajeto casa-trabalho, etc. E claro, por se tratar de um produto da Amazon, a Alexa era diretamente ligada à loja virtual, e trazia a novidade de viabilizar compras com comandos e voz.
A Amazon já havia revolucionado o sistema de e-commerce em 1999, ao implementar o “1-Click”, um recurso tão bom que Steve Jobs pagou uma licença de US$ 1 milhão a Bezos, para implementá-lo nos produtos da Apple. A Alexa, por mais que fosse uma assistente multifunção, era vista como uma evolução do recurso de comprar com um clique, desta vez bastando que o usuário diga “Alexa, compre X produto”, considerando que a Amazon vende de tudo.
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O grande problema para a Alexa, é que a divisão à qual ela faz parte, chamada Worldwide Digital, que também abarca o Amazon Prime. Segundo o artigo do The New York Times, o setor de dispositivos e serviços da Amazon foi um dos mais afetados com o corte massivo de empregos, no que a Alexa, e gadgets relacionados (linha Echo) concentrariam a maioria dos cortes.
A Twitch, embora também não ande bem das pernas, não teria sofrido restrições, mas o Luna, o serviço de streaming de games na nuvem, disponível em alguns países, pode ser exterminado tal qual o Google Stadia.
Por mais que a Amazon tenha investido pesado em P&D, para aprimorar ao máximo as capacidades da Alexa, ela nunca deu retorno significativo à gigante, e os dispositivos dedicados a ela são vendidos a preço de custo. Em 2018, 4 anos após lançada, a assistente já havia dado um prejuízo total de US$ 4 bilhões.
As coisas começaram a ficar feias em 2022, quando a divisão inteira anotou perdas de US$ 3 bilhões apenas no primeiro trimestre, e a projeção apontava um montante total de US$ 10 bilhões descendo pelo ralo ao longo do ano, grande parte da culpa caindo sobre a Alexa. Assim, a assistente caiu no conceito da companhia.
Rivais da Alexa não estão muito melhor
As coisas chegaram a esse ponto, simplesmente porque a Alexa gozava de proteção especial, no caso, de Jeff Bezos. A assistente virtual era seu projeto favorito, que o ex-CEO manteve funcionando mesmo com ela dando um prejuízo enorme.
Segundo informes do site Business Insider, a divisão inteira de dispositivos e serviços está em crise, com a Alexa assumindo o papel de Judas a ser malhado; ex-funcionários citam que o projeto foi “uma oportunidade desperdiçada” para gerar lucros, e “um fracasso imaginativo colossal”. Todas as estratégias para monetizar a assistente fracassaram, sem exceções.
Em 2019, em um dos últimos esforços para fazer a Alexa dar lucro, uma iniciativa envolvendo todo o setor de engenharia e desenvolvimento foi voltado à plataforma, e não deu em nada. Nessa época, Bezos perdeu o interesse no seu então xodozinho, e no fim daquele ano, as contratações para o setor foram congeladas.
Só que este não é um problema exclusivo da Amazon. A Microsoft foi uma das primeiras a pular para fora do barco, e matou a Cortana sem cerimônia; outrora uma assistente avançadíssima, ela foi capada ao extremo e hoje, é uma sombra de outrora.$ads={2}
O Google Assistente, por sua vez, está na mesma situação que a Alexa, em que todas as tentativas da gigante das buscas em extrair dinheiro da assistente, com exibição de anúncios e outras estratégias, também não deram em nada. A resposta foi a mesma, corte de pessoal.
Já a Apple opera de forma diferente, preferindo restringir a Siri apenas a seus (caros) dispositivos, no que o Homepod original não fez sucesso por ser caro demais; o mini, embora mais gerenciável, não é tão interessante frente a Alexa e o Google Assistente, compatíveis com TVs e caixas de som mais baratas.
Embora isso não signifique que as assistentes virtuais estejam com os dias contados, é possível que suas capacidades e recursos sejam restritos por conta de um menor investimento, já que como elas não dão dinheiro, Google, Amazon e possivelmente Apple farão por onde para que, pelo menos, elas também não deem prejuízo.
Fonte: Business Insider, Ars Technica